Outubro Rosa, UFSM: A vida após a cirurgia


Chega o mês de outubro e muito se fala da prevenção ao câncer de mama. As campanhas surgem como incentivo à realização do autoexame e/ou do teste de mamografia, a fim de detectar previamente possíveis sintomas do tumor que ocupa o segundo lugar no número de incidências a nível mundial,  perdendo somente para o câncer de pele. Quanto mais cedo for detectado, maiores são as chances de obter a cura. Já em um estágio mais avançado da doença, muitas vezes, se faz necessária a mastectomia, cirurgia de retirada de uma ou ambas as mamas. A recuperação após o procedimento costuma ser rápida, mas, na maioria dos casos, a mudança é muito mais interna do que externa.

Para muitas mulheres, retornar para casa e ver o corpo modificado pela cirurgia e pelo pós-operatório (sessões de quimio e radioterapia) é um grande desafio. A retirada da mama e a queda dos cabelos podem afetar diretamente a autoestima e a sexualidade das mulheres. O seio feminino sempre foi uma parte do corpo muito valorizada pela cultura que se tem imposta, e remete a valores como feminilidade e fertilidade. Logo, para além da aceitação do próprio corpo, há ainda a aceitação da sociedade em relação a isso.

As repercussões na vida de dez mulheres que derrotaram o câncer depois de se submeterem ao procedimento de mastectomia são relatadas em uma pesquisa feita por Elisa da Luz Adorna, Elhane Glass Morari-Cassol e Nara Maria Severo Ferraz. O estudo tem como objetivo apresentar aos profissionais de fisioterapia e de outras áreas da saúde, situações pelas quais passam as mulheres mastectomizadas, a fim de auxiliar no tratamento da recuperação física e emocional das pacientes.

As autoras buscaram entrevistar e analisar qualitativamente as respostas e, então, identificaram seis categorias afetadas pelo pós operatório, sendo três delas abordadas no artigo: vida afetiva, vida familiar e vida social. Publicado na Revista Saúde do Centro de Ciências da Saúde da UFSM, o texto conta a experiência de pacientes que participam do grupo de apoio Renascer.

                                                                                                                                                Os problemas apontados com mais frequência remetem ao relacionamento com familiares, companheiros e amigos, o afastamento das pessoas, a dificuldade de diálogo sobre o câncer de mama e o preconceito.  Diante de todas as funções sociais delegadas à mulher, o aparecimento do câncer pode criar um estereótipo e acarretar a afastamento ou exclusão de determinados grupos.

“Eu não falava muito porque tem pessoas que ficam achando que vai morrer, deu aqui já vai dar em outro lugar…”

“Minhas filhas ficaram nervosas, quer dizer, ficaram transtornadas, abaladas.”

Ao analisar as mudanças positivas, as autoras da pesquisa encontraram o fortalecimento dos laços familiares e de amizade e o apoio recebido pelas mulheres que, nestes casos, passaram a ser mais valorizadas e admiradas, pela família, companheiro e amigos. A pesquisa cita que o período da descoberta da doença e o acompanhamento de todo o tratamento geram uma situação de “crise” na família, fazendo com que, na maioria dos casos, esta permaneça unida.

“Ele acha que eu sou uma pessoa muito forte, porque qualquer outra pessoa sucumbiria, iria se entregar, se achar uma coitadinha, e eu nunca fui coitadinha.”

“… saíam cinco e entravam dez pra me visitar, naqueles dias, eu tive visita que não deu tempo nem de pensar muito… é a melhor coisa que a gente tem.”

O câncer de mama e seu tratamento são momentos difíceis na vida não só da mulher, como também de todo o seu círculo afetivo e social. Portanto, para além dos objetivos científicos da pesquisa, sobram também muitas reflexões.

 

Reportagem: Tainara Liesenfeld
Arte: Giana Bonilla