Esculturas missioneiras com 300 anos são levadas para museu em Quevedos após restauração


Arte sacra de origem guarani, esculturas missioneiras que datam de 300 anos atrás são levadas, neste sábado (11), para o Museu Sacro da Capela Nossa Senhora dos Remédios, em Quevedos, na Região Central do estado. As peças que foram redescobertas e restauras por um grupo de pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul seguem em carreata, a partir das 9h30, até o local. O evento será transmitido pela internet.

Entre as esculturas feitas em madeira estão duas da Nossa Senhora dos Remédios, fundadora do município, uma de Santo Inácio de Loyola e uma da Imaculada Conceição. Além de outras três peças, sendo elas um Menino Jesus Salvador do Mundo, um São Francisco Borja, um afresco de um anjo e trabalhos em arte barroca usados para enfeitar capelas.

Para o professor Edison Hüttner, que coordena o Grupo de Pesquisa de Arte Sacra Jesuítico-Guarani e Luso-Brasileiro da PUC, essas representações remetem a uma devoção religiosa que é secular no RS.

“Começou com as reduções jesuíticas de populações de grupos indígenas que estavam ao redor dessas esculturas e, ao mesmo tempo, se espalha pelo Rio Grande do Sul em capelas como a que estão as esculturas na cidade de Quevedos. Essa devoção continua depois de tanto tempo”, conta.

Esculturas missioneiras encontradas em Quevedos — Foto: PUCRS

O que foi encontrado

Em 2020, o professor Hüttner foi questionado por estudiosos se havia esculturas missioneiras na cidade de Quevedos e região, já que o município pertencia à Estância de São Domingos, que por sua vez fazia parte da Redução de São Miguel, atualmente conhecida da população gaúcha como Ruínas de São Miguel Arcanjo. Até então, não se tinha informações a respeito.

Foto que mostra a escultura — Foto: PUCRS

Foto que mostra a escultura — Foto: PUCRS

Pesquisando, ele descobriu em um livro de 1970 a imagem de uma escultura de um “Menino Jesus Salvador do Mundo” que estaria em Quevedos. O estudioso logo percebeu que se tratava de arte missioneira. Ele entrou em contato com a prefeitura municipal e tomou conhecimento por meio dela que havia outras peças em uma capela da cidade. A secretária de Cultura, Gicelia Quevedo Flores, enviou fotos para Hüttner que identificou todas como sendo missioneiras.

História

O trabalho de pesquisa do grupo de historiadores identificou o tropeiro José de Quevedos de Macedo, paulista de Sorocaba que foi para a região de Quevedos na época do tropeirismo. Ele ganhou terras e, em 1815, fundou a capela onde está uma dessas figuras.

O tropeirismo, cujo termo deriva de tropa, foi uma atividade itinerante desenvolvida por grupos de homens, os tropeiros, durante a época colonial do Brasil. Eles conduziam o gado do Rio Grande do Sul para Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. A criação de gado no Rio Grande do Sul começou com o estabelecimento das missões jesuítas. A catequização dos índios guarani nas missões não teve êxito e os missionários mudaram-se para o nordeste do território. Para trás ficaram os rebanhos que desde logo atraíram a atenção daqueles que vinham ao Rio Grande do Sul em busca de escravos.

Peças “perdidas”

Em 1997 foi a última vez que as peças foram identificadas. Isso ocorreu por meio de um inventário. Os pesquisadores e a prefeitura acreditam que, com o tempo e o passar das administrações, a origem e importância das peças foi se perdendo.

“Muitas culturas se unem ao redor dessas estátuas”, conta a secretária Gicelia.

Devido à pandemia, a exposição ao público será feita por agendamento.

 

Fonte: Por João Pedro Lamas, G1 RS