Conheça o gaúcho que virou sua vida para cuidar de Curitiba


Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Em agosto, a Guarda Municipal de Curitiba completou 31 anos e, ao longo deste tempo, a vida de muitos de seus integrantes se fez dentro da instituição, principalmente daqueles que estão desde o início, na primeira turma. No caso do inspetor Odgar Nunes Cardoso, atual diretor da GM, a história de vida se mistura fácil com a da instituição. Prestes a se aposentar, o inspetor, que decidiu ser guarda através de uma propaganda que viu na televisão na década de 80, não só tem a certeza de que fez a escolha certa como sabe que sua vida não seria a mesma sem isso. E pode ser visto como um grandioso exemplo aos novos guardas.

Antes de entrar na Guarda Municipal, Odgar atuou como sargento do Exército Brasileiro e depois passou a trabalhar como motorista de caminhão. “A empresa que eu trabalhava era de Curitiba, mas tinha uma filial no Rio Grande do Sul, onde eu morava. Numa das semanas de trabalho, o superior me pediu que eu fosse a Curitiba para alguns compromissos e foi aí que a GM entrou em minha vida”, contou.

Odgar disse que veio a capital paranaense, fez o que precisava fazer e, ao assistir TV, teve um ‘turning point’. “Estava assistindo ao jornal à noite e, no intervalo, vi um comunicado que dizia ‘entre na guarda municipal de Curitiba’, chamando para o concurso. Vi que eu tinha os principais requisitos e resolvi me inscrever”.

Entendendo que estava ali seu futuro, Odgar voltou para o Rio Grande do Sul decidido. “Voltei para a casa, mas já sabia que não ficaria mais por lá. Quando cheguei, pedi a conta do trabalho voltei para Curitiba para fazer o concurso. A coisa estava tão predestinada a dar certo, que minha papelada só ficou pronta no último dia de inscrição”.

‘Era pra ser’

Odgar largou as estradas e se formou na primeira turma da GM de Curitiba. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do ParanáOdgar largou as estradas e se formou na primeira turma da GM de Curitiba. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Como já tinha atuado como sargento temporário, Odgar tinha ainda em seu estilo de vida o que fazia no Exército. “Tentei ficar, inclusive, mas não passei no concurso. Quando saí do Exército tinha um padrão de vida, mas tudo mudou com o trabalho como motorista de caminhão e quando surgiu a oportunidade da GM me chamou a atenção pelo perfil que eu tinha, porque era recente para mim o Exército. Apostei minhas fichas porque eu vi ali o meu futuro, a recuperação do meu padrão de vida, trazendo de volta a minha ideia de carreira”.

Sem conhecer muito sobre Curitiba, afinal não morava aqui, Odgar passou a estudar sobre a cidade. Os dias que antecederam o concurso e, depois, o resultado das provas, não foram fáceis. “Eu ficava na Praça Santos Andrade estudando a praça. Ia à Biblioteca Pública estudar sobre Curitiba, porque eu tinha que saber tudo sobre a cidade para passar. Aprendi tudo em questão de dois meses. Passei fome, porque nem sempre tinha dinheiro para comprar comida. Mas no fim, passei na prova e na época entraram só 110 guardas, para mais de 3 mil candidatos. Era pra ser”.

GM é sua vida

Quando entrou na GM, no finalzinho da década de 80, a instituição estava surgindo e todos os padrões que se formaram ao longo do tempo vieram com os anos. “Por isso que, para mim, a Guarda é tudo que eu adquiri na vida. Não só na questão financeira, de bens materiais, mas também na questão pessoal mesmo. A Guarda foi uma estrutura de segurança não só para mim como também para a minha família. Me deu oportunidade e eu soube aproveitar isso”, disse Odgar, fazendo alusão aos estudos, já que ao longo do tempo em que atua como GM buscou se especializar. “Me formei em geografia e história, mas fiz especialização de planejamento estratégico na área de segurança pública e também para formação de instrutores”.

Odgar, que entrou apenas como ‘guarda municipal’, aos poucos foi abraçando as oportunidades que a carreira lhe dava. “Abriu concurso em 94, eu fiz, e passei para supervisor. Depois, em 2004, fiz o concurso para inspetor e passei também. Junto disso, no decorrer da carreira, devido ao trabalho desempenhado, tive a chance de ser diretor da GM três vezes: a primeira em 92, por um mês, a segunda em 2010 e agora, desde 2017. Já na questão pessoal, a GM me deu muito: minha esposa”.

Teve casório

No primeiro ano de GM, Odgar conheceu Silvia Maria Zoraski, a mulher que se tornaria a mãe de seus dois filhos e sua parceira da vida. Ela, que também é da primeira turma da guarda, se tornou supervisora e os dois se casaram em 89. “A história da gente se mistura com a da GM porque nos conhecemos trabalhando, namoramos, casamos e constituímos nossa família. Os mesmos valores que a gente tenta passar para os nossos filhos nós trazemos para a instituição, que é a base familiar, a convivência, a educação, a moral”, comentou Silvia.

Odgar e Silvia lembram que precisaram de autorização pra namorar, algo que era proibido. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do ParanáOdgar e Silvia lembram que precisaram de autorização pra namorar, algo que era proibido. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Os dois lembraram que quando começaram a namorar tiveram que pedir permissão, porque era proibido. “Tivemos que ir até o diretor para contar que estávamos nos conhecendo e pedir permissão para continuar. Ele autorizou, mas nós também tomamos o cuidado de não deixar o relacionamento atrapalhar o trabalho e nisso se passaram 30 anos”, disse ela. “Eu não tive que falar com o pai dela, mas sim com o diretor”, brincou Odgar, destacando que, hoje em dia, namorar na GM já é mais tranquilo. “É livre, mas o cuidado é implícito porque é algo que todo mundo deve ter”.

Assim como Odgar, Silvia buscou estudar e se especializar. “Me formei em pedagogia e me especializei em gestão de recursos humanos. É o que a gente traz para dentro, para ajudar a população. Hoje eu digo que, embora eu tenha participado de outros concursos no passado, não ter passado foi um sinal. Foi na GM que decidi ficar e acabou que aqui eu mesmo que constitui carreira, família, enfim, vida”.

O casal, desde sempre, buscou não misturar muito o trabalho com a parte pessoal. “Mas claro que a nossa vivência na GM traz o mesmo objetivo, ainda que de maneiras diferentes. Em casa se mistura mais, mas no serviço não misturamos, a única coisa que trazemos são os valores da família mesmo. Em contrapartida, na guarda ele é meu chefe, mas em casa os dois são os que mandam”, brincou ela.

A trajetória do casal, que existe desde o mesmo período da GM, é para eles um reflexo do quanto a Guarda Municipal de Curitiba se tornou importante na vida das pessoas. “Não só pela segurança que nós fazemos, mas por tudo que trazemos na história e o que a GM demonstra às pessoas. Ao longo destes 30 anos nós crescemos junto com a comunidade, aprendemos, ficamos mais próximos e é para isso que existimos. Porque segurança se faz não só com segurança, mas convivendo e mantendo o lado social, que faz parte”, avaliou Silvia.

Ao longo dos anos, o casal passou a trabalhar de forma integrada não só em sua missão, que é ser GM, mas também na questão social: há 13 nos, Silvia mantem, junto com uma colega de função, o projeto ‘Papai Noel Azul’ da GM, que busca presentear crianças carentes. “Já demos presente a mais de 10 mil crianças nestes anos. É um trabalho social que fazemos, de aproximação com a população, e que exige somente a nossa boa intenção. Todo o trabalho é feito com guardas voluntários e que tiram do próprio bolso”, disse, orgulhoso, o marido Odgar.

Tudo compensou

Ao fazer um balanço do quanto a GM mudou sua vida, Odgar se emociona ao tentar passar esta essência aos novos guardas, já que até o fim do ano novos GMs vão estar nas ruas atuando. “Sempre falo que temos um papel fundamental que não é nominal, não é o Odgar que a população olha e sim o guarda municipal. Por isso temos que passar uma imagem boa e a nossa missão fica ainda mais importante. Temos que ser o nosso próprio orgulho e essa credibilidade que a GM tem perante a população é devido ao trabalho que fazemos”.

Odgar tem certeza de que se não tivesse desistido de tudo, sua vida seria completamente diferente. “Não teria a estrutura que tenho hoje, a começar pela esposa, por exemplo. Acredito que não teria a responsabilidade na vida que eu passei a ter, pois a visão era outra no passado. É por isso que me sinto feliz e grato à Guarda Municipal. Porque o futuro que eu terei se dá pelo respeito que tive de valorizar o trabalho que escolhi para a vida. A evolução da minha vida foi espetacular e tudo gira em torno da guarda. Tudo que eu tenho foi a guarda que me proporcionou”.

 

Fonte texto por Lucas Zarzi Portal Tribuna Paraná